Estigmatização das Vítimas da Grande Chacina do Guamá

uma análise das narrativas midiáticas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21910/rbsd.v11i2.799

Palavras-chave:

Estigmatização. Criminalização. Chacina. Mídia.

Resumo

O texto em tela buscou compreender as referências jornalísticas sobre as vítimas da Grande Chacina do Guamá, ocorrida em 2019 na cidade de Belém do Pará. Para tanto, buscou-se analisar as justificativas elaboradas sobre o referido morticínio e que foram veiculadas em sítio eletrônicos dos principais meios de comunicação. Os conceitos de estigma e de criminologia midiática são os aportes centrais do tema. A metodologia empregada abarcou o levantamento bibliográfico e documental, com base na análise de conteúdo Bardin (1977), com ênfase nas reportagens das justificativas do massacre como persistência temática. Os resultados apontaram que, muito além dos onze corpos exterminados, as reportagens da Grande Chacina do Guamá visaram estabelecer a culpabilização das próprias vítimas do massacre e as mortes como produto inevitável da “guerra contra as drogas”. Demonstrou-se também como o sistema criminal de justiça opera na legitimação e justificação das mortes, visando o eficientismo penal. Os resultados demonstraram o papel preponderante dos agentes do Estado como fontes da mídia na cobertura de fatos violentos, ao passo que as justificativas das mortes reforçaram a estigmatização em um bairro historicamente segregado.

 

Biografia do Autor

Savio Rangel Urcezino Santiago, Universidade Federal do Pará

Possui Graduação em Direito pela Devray -Faci (2016), Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Pará (2009);
Pós-Graduado em Direito Público, Pós-Graduado em Controle, Prevenção e Intervenção na Violência (UFPA).
Atualmente é discente do Mestrado em Segurança Pública da Univeresidade Federal do Pará - UFPA.
Tem interesse em Criminologia Crítica, Teoria Social Marxista, Sociologia do Direito, especialmente Teoria das Representações Sociais, Memória e Violência.

Andréa Bittencourt Pires Chaves, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Possui graduação em Ciências Sociais pela União das Escolas Superiores do Pará (1991), doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido pela Universidade Federal do Pará (2003), mestrado em Sociologia Geral pela Universidade Federal do Pará (2002) e mestrado em Serviço Social pela Universidade Federal do Pará (2000). Atualmente é professora Titular da Universidade Federal do Pará. Professora do PPGSA e PPGSP do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: Mundo do Trabalho e Segurança Pública.

Izabela da Silva Jatene, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Graduação em Ciências Sociais(UFPA), Mestrado em Antropologia Social (UFPA), MBA em Gestão de Projetos Sociais (FGV - RJ), Doutorado em Ciências Sociais (PUC - RJ).

Professora da Faculdade de Ciências Sociais, Instituto de Filosofia de Ciências Humanas, desde 1994. Experiências em Gestão de Políticas Sociais, elaboração e implementação de programas sociais em larga escala. Participou como oficial de projetos do Comitê Latino Americano de Prevenção de Drogas e Crime, das Nações Unidas.Sociabilidade Urbana, Juventude, Cultura de Consumo, Gestão Pública, Direitos Humanos e Políticas Afirmativas

Edson Marcos Leal Soares Ramos, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Bacharel em Estatística pela Universidade Federal do Pará (1994), mestre em Estatística pela Universidade Federal de Pernambuco (1999) e Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003). Atualmente é professor Associado IV da Universidade Federal do Pará e professor colaborador da Universidade de Cabo Verde no mestrado de Segurança Pública. Tem experiência nas áreas de Estatística, Engenharia de Produção, Segurança Pública e Economia, com ênfase em Métodos e Modelos Matemáticos, Econométricos e Estatísticos, atuando principalmente nos seguintes temas: estatística, séries temporais, modelagem, previsão, planejamento de experimentos, segurança pública e controle estatístico da qualidade.

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Publicado

2024-05-03