Comunitário e autoritário

a construção discursiva do ethos de facções na regulação do espaço de favelas brasileiras

Resumo

Estudos no campo da retórica apontam para a importância do ethos, isto é, da imagem do orador e da credibilidade que ele consegue transmitir não apenas como aspecto com poder persuasivo, mas também como componente fundamental de qualquer ato discursivo. A percepção do auditório sobre o orador pode ser construída, inclusive, pelo próprio discurso por ele emitido, constituindo um ethos discursivo. Diferentes estudos apontam para a construção discursiva do ethos no campo jurídico, mas pouco foi explorado a partir do pressuposto do pluralismo jurídico. Este trabalho busca explorar a projeção discursiva da credibilidade de oradores em um contexto de juridicidade não-estatal, a partir da pergunta: como as facções constroem discursivamente o seu ethos em espaços públicos de favelas brasileiras? Para responder a essa pergunta, foi feito um banco de dados com 56 imagens de faixas ou pichações que comunicam normas de comportamento emitidas por facções em favelas brasileiras. A análise desses dados permitiu perceber a veiculação de dois ethe para as facções, um ethos comunitário e um ethos autoritário, que não são excludentes e que constroem a legitimidade desses grupos como instituições com capacidade de regular o espaço de favelas no Brasil.